segunda-feira

_ Minha deusa, minha rainha.

Era assim que ele me chamava, menino bonito, novo e doce, louco pelas ranhuras que fazem desenhos nas solas dos meus pés, babando por sentir-lhes os cheiros, a volúpia das unhas vermelhas a tirar-lhe o sono.

Vezes sem conta pedi que me esquecesse, contei trapalhadas e desencantos para desfazer essa imagem de rainha que nunca me serviu, foi sempre em vão e acabei por ceder.

Escolhi o flat, o dia e a hora, e ele chegou muito tenso, nervoso, sem saber se ajoelhava ou me beijava o rosto, e isso me fez rir.

_ Vou abusar de você, lindinho. É o que você quer, não é? Tira a roupa.

A Chapada da Diamantina, seus morros e cachoeiras, as Tuileries, nada que eu já houvesse visto me parecia tão lindo.

Parado bem na minha frente ele era só o próprio coração aos pulos, medo e desejo, um corpo que ansiava calado pelo meu, presa não das minhas virtudes mas do seu próprio fetiche. Não era a roupa que ele despira que o deixava tão belamente nu, mas a verdade com que aceitava o próprio desvario, o jeito honesto de se mostrar como escravo dos meus pés vaidosos, tímido, temeroso e faminto.
Provoquei-o com os sapatos, depois pedi que os tirasse e observei o modo como admirava os dedos já marcados pelo bico fino e aspirava o aroma do couro misturado ao meu.

Poder oferecer-lhe o que tanto desejara, permitir que se fartasse dos meus pés e por eles gozasse; tudo isso me fez sentir a Grande Rainha da Generosidade.

A vaidade é mestra em disfarces.